Wednesday, May 20, 2009

AS RAÍZES DA MUDANÇA


A REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA

Não há dúvida, porém que apesar das incertezas que cercam as mudanças na ordem mundial algumas características se acentuaram e se definiram como agentes impulsionadores das transformações. Assim fica claro que a Ásia Oriental, que já responde por mais de 50% (cinqüenta por cento) da expansão do comércio mundial tende a representar mais de 30% (trinta por cento) do produto mundial; que as novas formas de gerenciamento, com o auxílio de redes de microcomputadores e estradas eletrônicas de informação, permitem uma rápida avaliação dos resultados econômicos e um igualmente veloz movimento dos capitais e investimentos; que os setores produtivos demonstram, em razão da utilização de técnicas intensivas de capital, uma incapacidade crescente de geração de empregos modificando o comportamento de governos e trabalhadores no que tange aos capitais estrangeiros e as relações de trabalho e some, com a consolidação da União Européia, o fantasma do imperialismo em face das nações com menor grau de desenvolvimento competirem por investimentos estrangeiros e alianças com os blocos econômicos mais importantes.
As interpretações existentes para esses fenômenos baseiam-se no fato de que estamos em plena uma era de evolução tecnológica cuja principal característica seria a substituição da grande planta industrial produtora em larga escala de poucos produtos e padrão invariável por plantas menores flexíveis, construídas para produzir uma infinidade de bens e adaptar-se a outros processos de produção, quando necessário. Independente da comprovação de que o novo padrão esta associado à evolução tecnológica e à inovação convém ressaltar que o motivo da modificação nos parece muito mais econômico do que as análises atuais deixam entrever, pois mesmo sendo verdade que o sistema técnico iniciado pela Revolução Industrial, rígido e com máquinas dedicadas, apresenta-se problemas de flexibilidade, de escala e de produtividade, sua superação somente começa a se concretizar, na década de 70, por questões como os custos elevados e a inadequação aos novos estilos de comportamento nos quais o nível de cidadania, de respeito pela natureza e a diversificação das pautas de consumo - impondo menores preços e maior qualidade - tornou imperativo as reformulações nas grandes corporações que tiveram parte de seus mercados invadidos por médias e pequenas empresas.
Estes fatores redefiniram os modelos de organização do trabalho e dos sistemas de máquinas nos tipos atualmente utilizados que são:
1) O Sistema de Manufatura Flexível (Flexible Manufactoring System-FMS) - Caracterizado pela utilização de máquinas polivalentes controladas por computadores que monitoram, supervisionam e dirigem a velocidade, o grau de transformação dos produtos, montagem, embalagem e controle de qualidade. Este sistema permitiu inovações excepcionais no planejamento e na elaboração dos produtos ( Técnicas como o Computer Aided Design- CAD; Computer Aided Manufacture-CAM e Automatic Guided Vehicles- AGV) que elevaram o grau de flexibilização, automação e o uso do espaço, por meio de seqüências organizacionais extremamente rápidas e interdependentes que se ajustam no tempo exato (just in time), a um nível nunca visto em termos de precisão e produtividade.

2) O Sistema de Manufatura de Alta Tecnologia- Caracterizado por plantas industriais em pequena escala que operam com mão de obra de alta qualidade para produzir bens cuja elaboração exige uma elevada composição de conhecimentos. Este tipo de sistema normalmente esta associado ao que se denomina de spin-off, um processo disseminativo que tem sua origem geralmente a partir de universidades, ou incubadoras tecnológicas por elas criadas, e centros de pesquisa. Também se adapta melhor aos setores de componentes de informática, eletrônicos, fármacos, biogenéticos, polímeros, compósitos e produtos químicos de desenvolvimento recente ou de difícil manipulação. É um tipo de sistema altamente dependente de conhecimentos técnicos para elaboração do produto.
3) O Sistema de Manufatura Integrada (Computer Integrated Manufacturing - CIM) - Caracterizado pelo controle por painéis e vídeos que comandam à distância todos os processos que são contínuos. É a chamada fábrica automática que tem se adaptado com resultados excelentes aos setores siderúrgico, petroquímico e de celulose que exigem precisão e continuidade.
Estes sistemas implicaram numa reorganização das empresas, normalmente muito associada ao processo de reengenharia e à informática, que revolucionaram os padrões existentes de gestão e produção pela diminuição do número de trabalhadores, o desaparecimento dos níveis hierárquicos, o foco no processo em substituição as tarefas e, principalmente pela polivalência e co-responsabilidade funcional, isto é os trabalhadores passam não somente a desempenhar diversas funções como se responsabilizam pelos resultados, o que eqüivale à necessidade de uma mão de obra qualificada, com competência técnica para exercer diversos tipos de tarefas e sintonizada com o mercado e a sociedade. Deduz-se daí o surgimento da fábrica orientada pela ciência (science-oriented), que é um traço essencial do capitalismo moderno, no qual a ciência deixa de ser uma auxiliar da produção para converter-se em parte integrante dela e direcioná-la tanto no que se refere a parte produtiva como administrativa. Mas tal direcionamento não é, lógico, neutro porque feito em função dos objetivos isolados da empresa, de modo que se a utilização da ciência acontece buscando a maior racionalidade empresarial não implica numa racionalidade em nível nacional ou mundial. Ou seja, o que é bom para a GM nem sempre é bom para os Estados Unidos ou para o mundo.
Como se observa o conjunto derivado dessas características citadas é o que se convencionou chamar de ''Processo de Globalização" que, na sua essência, é a nova forma que o capitalismo vai adquirindo quando chega a um estágio onde, para sua reprodução, se faz indispensável a integração do mercado mundial. Integração que, dada as características históricas específicas de cada formação social, não se faz de forma homogênea nem temporalmente coordenada. Como a invasão da produção capitalista se faz sentir de maneira arrasadora nas configurações sociais existentes, via propagandas e produtos, a resistência dos espaços nacionais, a partir de políticas próprias, se efetua pela capacidade de reação cultural, nível de educação e capacidade produtivas preexistentes. No entanto, em maior ou menor grau, o processo afeta a todos os países, principalmente quando há um esfacelamento da capacidade de investir dos estados que os conduz a uma disputa acirrada por investimentos externos para viabilizar a manutenção ou a obtenção de níveis mais elevados de vida, o que provoca mudanças irreversíveis nos comportamentos, na produção e no consumo. É SCHAPOSNIK que afirma que "Muito além de um simples processo de deslocamento de capitais, internacionaliza-se a produção e criam-se novos esquemas de divisão internacional do trabalho. Se um país é dependente de segunda ordem, já não está mais em condições de alterar esta nova divisão, mas somente diminuir ou amenizar os efeitos negativos. Na forma, os efeitos assemelham-se aos do imperialismo, mas o sistema de produção mundial interligado supera aqueles conceitos. A teoria do imperialismo vinculava a ação do capital a um país determinado, mas a transnacionalização adquire caracteres próprios e um certo grau de autonomia. Contra o imperialismo se pensou que fosse possível lutar mediante uma ação política nacionalista; contra a transnacionalização esses instrumentos resultam totalmente insignificantes e inadequados". Em resumo o processo tem uma força avassaladora que pode ser verificada nas palavras de COSTA FILHO "A idéia em si de globalização é veiculada em mensagens - menos ou mais explícitas - que impulsam sua própria expansão. Competir ou morrer, integrar-se externamente ou ficar fora do desenvolvimento, globalizar-se ou marginalizar-se, são exemplos, a esmo, de dilemas que ajudam a difundi-la".
Sob a pressão dos dilemas propostos pelo processo as respostas não tem sido muito diferentes e podem ser agrupadas nos seguintes tipos de políticas modernizadoras :
a) Abertura para o capital externo com prioridade para a captação de recursos e exportações, via modernização do parque produtivo;
b) Estabilização da economia ancorada em moedas externas, no ajuste fiscal e monetário, no equilíbrio do balanço de pagamentos;
c) Desregulamentação do mercado via eliminação de barreiras ao comércio interno e externo, flexibilização das relações trabalhistas, medidas de facilitação e saneamento dos mercados financeiros e fortalecimento do sistema de preços; e
d) Desestatização pelo encolhimento do aparelho burocrático, das funções e funcionários públicos, retirada do estado da esfera da produção pela privatização de empresas, redução dos tributos e dos gastos públicos, reforma da previdência social e eliminação do déficit público.

Fonte: Silvio Persivo – Texto do livro “A Batalha das Agendas: Mercosul & Alca”, 2.000.

A NOVA ORDEM PÓS-GUERRA



O Acordo de Bretton Woods

O Acordo da Conferência Internacional Monetária de Bretton Woods, ocorrido em 1944, visava assegurar a estabilidade monetária internacional, impedindo que o dinheiro escapasse dos países e restringindo a especulação com as moedas mundiais. Antes do Acordo, o padrão ouro de troca - que prevaleceu entre 1876 e a Primeira Guerra Mundial - dominava o sistema econômico internacional. São instituições financeiras gêmeas, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial surgiram em 22 de julho de 1944. Foram criadas por 45 países (Brasil entre eles), já nos estertores da 2.ª Grande Guerra, que se reuniram de 1.º a 22 de julho de 1944, na cidadezinha de Bretton Woods, Estado de New Hampshire, Estados Unidos.
A Conferência de Bretton Woods foi convocada para construir uma nova ordem econômica mundial que impedisse novas crises internacionais como os da Grande Depressão dos anos 30. Foi uma espécie de antecipação da ONU (fundada em São Francisco em 1945) para tratar das coisas do dinheiro. A reunião centrou-se ao redor de duas figuras chaves: Harry Dexter White, Secretário-Assistente do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos e de Lord Keynes, o mais famoso dos economistas, representando os interesses da Grã-Bretanha, que juntos formavam o eixo do poder econômico.
Acertou-se que dali em diante, em documento firmado em 22 de julho de 1944, na era que surgiria das cinzas da Segunda Guerra Mundial, haveria um fundo encarregado de dar estabilidade ao sistema financeiro internacional bem como um banco responsável pelo financiamento da reconstrução dos países atingidos pela destruição e pela ocupação: o FMI (Fundo Monetário Internacional) e o Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento, ou simplesmente World Bank, Banco Mundial, apelidados então de os Pilares da Paz. O padrão-ouro, sobre o qual fora construída a Nova Ordem, foi desmantelado em 1971, o dólar tornou-se a moeda hegemônica de reserva mundial, e os ativos financeiros são hoje centenas de vezes mais importantes que os comerciais.
Durante vinte anos o sistema Bretton Woods funcionou , mas chegando à segunda metade da década de 60 começaram a surgir problemas derivados da degradação das finanças norte-americanas. Para se financiar o déficit orçamentário houve um aumento da emissão de dólares que, por um lado, começou a criar problemas aos restantes países membros do acordo Bretton Woods, porque os obrigava a emitir das suas próprias moedas para manter o cambio "fixo", criando pressões inflacionária na sua economia, e por outro, associado a uma degradação da conta corrente norte-americana, com as importações a crescer mais rápido que as exportações (a balança comercial passou de um excedente de 6,8 mil milhões em 64 para um déficit de 2,9 mil milhões em 71, sendo também um dos culpados a sobrevalorização do dólar, que mantinha o preço dos produtos norte-americanos muito elevados face aos europeus), a quantidade de dólares passou a exceder o estoque de ouro diminuindo a vontade dos outros países de deter dólares. (em 1971 o passivo norte-americano era de 70 mil milhões de dólares e o estoque de ouro de apenas 12 mil milhões). A pressão foi aumentando e durante o primeiro semestre de 1971 já se notava alguma valorização das moedas mais importantes face ao dólar, apesar de serem tomadas algumas medidas para contrariar esta tendência. Mas, a 15 de Agosto, Nixon, que era presidente desde 1969, pôs fim ao acordo de Bretton Woods e à convertabilidade do dólar em ouro, anunciando a sua vontade de realinhar as taxas de paridade. Após o anúncio, os mercados estiveram fechados durante uma semana e quando abriram o dólar foi desvalorizando, com os Bancos Centrais a intervir e a controlar a situação.